SESC Pompeia

Embora a arquitetura brutalista não tenha nascido no Brasil, alguns arquitetos estrearam em nosso país com essa nova forma de construir, que é uma arquitetura na qual se privilegia a funcionalidade, deixando de lado os elementos decorativos e, mesmo assim, criando edifícios monumentais, elegantes e proporcionais. Na Europa essa arquitetura contribuiu para a reconstrução – mais econômica – do continente no pós Segunda Guerra Mundial e, aqui no Brasil, não era apenas um conceito estético, mas também uma militância política.

Pode-se dizer que o brutalismo caracteriza-se pela ideia de beleza, na verdade construtiva, dos materiais, ou seja, a edificação deve ser honesta, nela podendo distinguir estrutura e vedação, não existindo critério do que possa estar à vista ou não.

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Fonte: Alana Vitti, Maio 2016

A partir dessa ideia e ligado ao fato de o local escolhido, para abrigar o novo Centro de Lazer, na cidade de São Paulo, ser uma antiga fábrica de tambores, Lina Bo Bardi dá vida a uma obra polêmica, que não se encaixava aos padrões da época, mas um verdadeiro presente para a cidade.

Assim, em 1986, nasce o Sesc Pompeia com uma linguagem industrial, novas escalas, muitas cores além de uma programação abrangente – que Lina experimentou na Bahia – trazendo a vida pública para o interior dos edifícios, atingindo as pessoas de todas as faixas etárias. Façanha conquistada através de uma rua aberta que leva as pessoas para espaços internos do Centro, convidando-as a participar dessa vida sócio-cultural e trazendo o ambiente urbano para dentro desse espaço.

Ao caminhar pelas ruas de São Paulo em direção ao Pompeia, você avista há poucos metros o polêmico edifício brutalista de Lina, que se destaca em meio a paisagem urbana de edifícios modernos, mas quando chegamos ao destino final, uma sensação de alienação é causada ao entrar pela “rua”.

Percorrendo os espaços do Sesc conseguimos deixar a imaginação correr e idealizar como era a vida na antiga fábrica através dos elementos ali deixados em seu estado original. Se pensar na vida fabril que acontecia enquanto fábrica, podemos depreender que o mesmo acontece nos dias atuais, pois dentro da cidadela acontece uma dinâmica totalmente diferente do que está acontecendo lá fora.

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Fonte: Alana Vitti, Maio 2016

Temos um exemplo de duas arquiteturas diferentes da mesma temática fabril que causam no visitante duas sensações distintas; a primeira o aconchego das instalações nos antigos galpões que foram transformados em biblioteca, restaurante, oficinas e espaços de convivência; e logo ao chegar ao deck de madeira – que passa por cima do córrego das Águas Pretas – e se deparar com os edifícios de concreto, uma certa sensação de estranheza e até certo desconforto é causada no espectador.

Apesar das críticas e elogios à arquitetura do Pompeia, as construções têm apenas um objetivo: a convivência entre as pessoas numa cidade onde, na rua, dificilmente interagem.

Lina soube dosar sua arquitetura ora pesada, pelos elementos em concreto armado aparente, ora leve, como pelo deck de madeira. E, através de todos esses elementos, criar uma experiência arquitetônica para o convívio social, e aguçar os sentidos para a experimentação da funcionalidade do edifício através de sua arquitetura industrial, sendo uma das precursoras de um novo estilo arquitetônico no país, juntamente com Villanova Artigas, em um movimento preocupado com as questões sociais e a verdade dos materiais seguindo a linha dos Smithson, que se utilizou desse ideal na Inglaterra alguns anos antes, e a formalidade de Le Corbusier na aplicabilidade do concreto bruto em estruturas prismáticas puras na busca da univolumetria e, claro, levanto características próprias para a sua arquitetura que era reconhecível pelas suas características originárias do movimento, mas com uma autonomia pelas diferenças que a Arquitetura Brutalista Paulista desenvolveu.

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Fonte: Alana Vitti, Maio 2016

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